O maravilhoso mundo da mulher imigrante e expatriada

Artigo especial para as mulheres que decidiram seguir um caminho pelo mundo afora. Acredito que as razões motivadoras para esta grande mudança são inúmeras, mas vou começar com a minha história.

MINHA HISTÓRIA

Nasci no Uruguai, mas foi no Brasil que cresci e estudei Psicologia. Nasci em uma família de imigrantes (Lituânia, Polônia e Rússia), e sempre ouvi sotaques diferentes que até hoje me fascinam. Diferentes costumes, culturas e culinária variada já faziam parte de minha rotina desde que eu me entendo por gente.

Neste ano de 2018, vou completar 10 anos nesta encantadora e mágica ilha, a Irlanda. Vim para ficar inicialmente 6 meses. Cheia de sonhos, esperanças e muitas expectativas, é claro! E, logo que cheguei na Ilha Esmeralda, me apaixonei pela cultura, pelas paisagens, pela simpatia dos irlandeses e, porque não, por um par de belos olhos azuis irlandês.

E essa paixão virou amor, e um laço de compromisso que dura até hoje ao lado do nosso filho. Entre encontros e desencontros, momentos felizes e frustrantes, hoje olho para trás sem arrependimento algum, foi a melhor decisão que tomei em toda a minha vida.

Mas com a minha experiência, sendo mulher e imigrante, posso dizer que a bagagem cultural, emocional, e a resiliência para a mudança, são algumas das características mais marcantes de uma mulher que vive no exterior. Recomeçar, se reconhecer, se reinventar e se aceitar.

ACEITAÇÃO

Como psicóloga não posso deixar de falar mais sobre os pensamentos e sentimentos. Porque sobreviver e VIVER em um país estrangeiro significa rever hábitos e comportamentos. Flexibilidade mental são as a palavras-chave.

Um sentimento que sempre te acompanhará é o de“eu não sou daqui, mas também não pertenço a lugar nenhum”. Mas tudo vai ficando melhor quando você aceita isso com naturalidade. Ah, eu adoro essa palavra: ACEITAR. Tudo fica muito mais fácil quando você aceita as suas escolhas e tenta fazer o melhor da situação e das suas circunstâncias. E sabe qual é a melhor parte? Com o tempo, você aprende a ser mais flexível e se torna uma pessoa mais curiosa.

Lembra quando você era criança e perguntava constantemente “por que”? Era simples curiosidade e sede de aprender e compreender o mundo ao seu redor. Pois é, assim que nos sentimos, com a mente curiosa de uma criança, mas com a tão sonhada liberdade e experiência de vida de um adulto.

A NATUREZA DE SER MULHER

Nós mulheres temos este dom nato da curiosidade! A nossa subjetividade é muito aflorada e, quando vivemos no exterior, parece que este canal se abre ainda mais. Passamos a perceber e ficar mais atenta ao nosso comportamento e ao das pessoas ao redor, os sentidos ficam mais aguçados afinal, precisamos entender as regras de boas maneiras do local onde moramos, porque não importa se você é do tipo “esse é meu jeito de ser”, se adaptar é uma questão de sobrevivência. E, posso te garantir, esta é uma habilidade social maravilhosa que nós mulheres temos maior facilidade, somos como um camaleão.

Você aprende que tem uma força interior e uma capacidade de adaptação que não imaginava. Afinal, é da nossa natureza se adaptar à mudanças. O cérebro humano é maravilhoso, acredite. E nós mulheres, com este instinto “cuidador”, estamos sempre atentas e fazendo uma espécie de leitura mental, conseguimos analisar o ambiente, as necessidades das pessoas e essa nossa sensibilidade feminina ajuda muito na adaptação à vida no exterior.

O NOSSO DILEMA DE CADA DIA

Você já ultrapassou a frustração inicial de não se comunicar com fluência. Tudo bem cometer erros e falar com sotaque, afinal essa é VOCÊ e isso é o que te torna única e especial. Pelo menos eu é o que meu marido me diz, sempre e que delícia ouvir estas doces palavras. <3

Mas e quando encontramos uma compatriota que fala a mesma língua? Que sensação mágica de empatia e alívio. Porém, no meio da conversa dá aquele branco!

“Como fala aquela palavra em português mesmo? Puxa, nem português eu consigo falar direito?” Mas você ACEITA que tudo bem esquecer as palavras em português, você fala mais em inglês e, que bom, a sua amiga também. Vocês duas se ACEITAM e isso já faz parte da rotina de vocês. Aliás, isso me lembra a minha avó que falava “portunhol” ( português + espanhol), e não é aquilo para mim era a coisa mais natural do mundo?!

E O BRASIL, ACEITA?

Você já aceitou que é uma estrangeira e não se cobra tanto, aceitou que já fala tudo misturado mesmo. Agora o desafio é visitar o seu país natal.

Sim, o lugar onde você nasceu, a zona de conforto…ops, pequeno probleminha. A sensação de “peixe fora d’água” aparece de novo ao visitar seus amigos e família. Ah, só quem mora no exterior entende essa sensação de “peixe fora d’água” no próprio país.

Você se sente estranha, diferente, uma estrangeira na sua própria terra natal. Bem os seus hábitos e valores mudaram, você não sabe das notícias, o clima é diferente, a comida também, já não tem tanto assunto para falar.

E aquele probleminha de comunicação, o “branco”, volta! Aquela amnésia temporária de seu próprio idioma vai te acompanhar. Mas lá você pode passar a imagem de esnobe, as pessoas não imaginam o genuíno esforço mental que você está fazendo para tentar falar o seu próprio idioma. Parece até piada, mas é a pura verdade. Eu e você sabemos que é verdade, eles não.

Então o jeito é ACEITAR quem você é, as suas escolhas e que você é um ser humano em constante transformação. Diminua a autocrítica, você não precisa provar nada para ninguém. Você é uma mulher admirável por passar por todos estes desafios. E fica uma dica minha para as mulheres que vivem ou pensam em explorar este universo afora:

Nunca deixe de acreditar na sua força interior, ACEITE suas limitações, mas desperte a mulher amazona que existe dentro de você. E, jamais, never, ever, deixe de acreditar na sua capacidade de alcançar o que você quiser!

E você qual o motivo que te levou a morar em outro país? Aquele tão sonhado emprego no exterior? Como acompanhante de seu parceiro, teve aquela oportunidade única de trabalho? Foi viver um grande amor? Estudos?

Comente abaixo e compartilhe sua história.

Um caloroso abraço

Silvana

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